O homem entra no consultório da já cansada doutora Vanessa, o ultimo paciente havia sido muito desgastante, mais uma esposa traída, se ela tivesse condições suspenderia todas as consultas do dia. Doutora Vanessa no auto de seus trinta e dois anos era uma mulher tranqüila, morena de pele bastante branca tinhas as bochechas levemente rosadas e proeminentes evidenciando certo excesso de peso, nada exagerado. O homem que entrava no consultório era um rapaz de no maximo vinte e sete anos, branco, já com os cabelos começando a ralear no centro da cabeça, barba por fazer, os olhos angustiados denunciavam que esse era mais um caso serio, a doutora gostava de atender os novos casos as segundas pela manhã, para poder se dedicar ao maximo a cada cliente, mas esse rapaz, Jonathan Siegfried, havia sido indicado por um antigo paciente, e parecia ter bastante pressa.
- Boa Tarde Senhor Jonathan, pode se sentar nesta cadeira ou na poltrona reclinável se o senhor preferir.
- Acho que vou sentar na poltrona reclinável pra completar o clichê doutora - Disse o rapaz sentando-se desajeitadamente na poltrona.
A doutora riu mecanicamente, era a segunda vez na mesma semana que alguém fazia essa piada.
- Muito bem Jonathan, posso te chamar assim? - o rapaz consentiu com um gesto de cabeça - Já dei uma olhada no questionário que você preencheu na recepção, gostaria de saber o que te traz aqui hoje?
- Nossa Doutora direto assim na bucha! - Jonathan esperava uma resposta que não veio da doutora - Bom... Eu tenho um problema com as mulheres... Ou melhor, na maneira como eu me relaciono com elas.
- Que problema Jonathan? - A doutora se recostou na cadeira, oitenta por cento dos rapazes dessa idade que iam ao consultório começava o discurso dessa forma, nesse momento ela sentiu-se terrivelmente cansada.
- Comecei a reparar a uns doze anos doutora, eu sempre simpatizei demais com as garotas, sabe... Na escola sempre tinha uma rodinha de caras falando de alguma garota, que ela era vaca, gostosa ou feia... Lógico que por instinto de sobrevivência eu dava umas risadas e até arriscava umas opiniões, mas eu sempre achei isso horrível demais, não me entenda mal doutora eu não sou viado.. Perdão, homossexual, nem nada mas dês dessa época eu reparava que a minha consideração pelas mulheres era incomum... - Vanessa notou mais um lugar comum no discurso do rapaz, a preocupação explicita em não parecer gay, na faculdade ela havia tido um professor que por brincadeira havia formulado um teorema baseado em sistema de atribuição de pontos que indicava o quão gay cada paciente era, essa frase já garantia 12 pontos de um total de 69 para ser considerado uma bichona safada.
- E você tinha namoradas na escola Jonathan? - Ela já sabia a resposta.
- Bom, veja bem namorada mesmo não - nesse momento Jonathan fez uma pausa inspirou profundamente e disse - Quem eu to querendo enganar, lógico que não! Olha pra mim, eu não tive namoradas no colegial nem na faculdade nem agora, a ultima mulher que me beijou na boca tinha seis anos e me pediu um balão de parque em troca! Tirando isso eu só catei coitadas até hoje - A sinceridade de Jonathan assustou Vanessa, A maioria dos pacientes demorava umas três sessões para ter aquilo que ela chamava "Momento Over" que era quando o desgraçado ou a desgraçada caia em prantos e contava que quase todas as mentiras ridículas que eles haviam contado e que ela já sabia que eram mentiras ridículas eram na verdade mentiras ridículas.
- Calma Jonathan, muito positiva a forma como você foi sincero agora! É esse então o seu problema com as mulheres? O que você quis dizer com coitadas? - Jonathan passou a mão nos olhos enxugando as lagrimas enquanto ria nervosamente da sua situação.
- Não tava querendo dizer putas e vagabundas interesseiras pra senhora doutora, e esse não é o meu problema, pelo menos não o que me trousse aqui hoje - Agora Vanessa estava surpresa, se isso não era um problema o que poderia ser?
- Qual é o problema então Jonathan - Dessa vez o rapaz deveria abordar o problema diretamente, se ele fizesse outro retorno ao passado não seria um bom sinal, pois ele estava se mostrando tremendamente disposto a encarar o problema, e se mostrasse mais uma vez receio em abordar a causa raiz da visita então o problema deveria ser um monstro, do tipo "Eu me masturbo cheirando as calcinhas da minha irmã", "Eu sinto atração sexual por crianças", "Eu me masturbava cheirando as calcinhas da minha avó e sinto falta disso", "Eu estuprei alguém!" ou algo do tipo "Eu me masturbo cheirando as calcinhas da minha irmã, sinto atração sexual por crianças também me masturbava cheirando as calcinhas da minha avó, alias sinto muita falta disso e estuprei alguém ontem". Por tanto esse era um momento de muita tensão.
- Eu amo todas as mulheres do mundo doutora - Doutora Vanessa suspirou discreta e aliviada e deixou escapar um sorriso ao perceber que o paciente havia corado e tampado os olhos enquanto contava.
- Como assim ama?
- Tipo... Eu fico lembrando delas, suspirando, beijando o ar enquanto lembro do rosto delas, chorando quando ouço musica do Fabio Junior... Tipo isso!
- Mas de que mulheres você esta falando?
- Da caixa loira do Banco do Brasil da avenida presidente Vargas, da guarda que também trabalha lá, da moça mulata que vende passes de ônibus e tem um olhar tão doce, da sua secretaria que mesmo sendo gordinha foi tão educada comigo.... E isso só pra falar das ultimas duas horas de hoje! - Foi um tremendo esforço para
Vanessa se manter seria nesse ponto, a maneira seca e indignada do paciente era digna dos melhores shows de comédia, a única coisa que a ajudava a se manter impassível era perceber a dor do rapaz.
- Calma Jonathan, vamos por partes, Por que você acha que ama essas mulheres?
- Puxa vida doutora, quando eu vejo elas meu coração quase estoura no peito, eu transpiro, sinto vontade de abraçar, esfregar meu rosto no rosto delas, de fazer carinho sei lá - O rapaz fez uma pausa, e quando a doutora ia emendar mais uma pergunta tentando detalhar a situação ele continuou.
- Teve uma vez, em que eu estava no Ônibus do trabalho, que por sinal tem umas três moças pelas quais eu sou vidrado dai entrou essa garota, ela devia ter no maximo uns 19 anos, cabelos loiros platinados, uma calça de cintura baixa e uma camisa do palmeiras bastante apertada, um corpo escultural, um rosto meio parvo mas que parecia bondoso, ela estava usando um desses perfumes que tem um cheiro doce bastante forte, daqueles que fazem o ônibus parecer uma festa hippie com incenso vagabundo. Eu juro pra você doutora eu lembro do cheiro dessa mulher toda vez que entro em uma perfumaria, até já comprei uns perfumes tentando achar o cheiro dela! E isso já faz seis anos!
A doutora Vanessa fez uma pausa de cinco segundos antes de retomar a conversa, queria ter certeza que o paciente não tinha mais nada a dizer, enquanto isso o rapaz passava a mão nervosamente nos cabelos.
- Você falou do corpo da garota Jonathan, queria saber se esse amor se reflete também em desejo sexual?
- Porra! Desculpa. Pra cassete doutora! Essa palmeirense tinha um par de peitos insandecedores, uma boca que era um pecado, outro dia eu consegui a façanha de babar olhando pro decote de uma amiga da minha mãe de quarenta e oito anos que eu sempre chamei de tia Berenice, que por sinal deve ser a mulher que mais foi "homenageada" por um mesmo rapaz em toda a história da masturbação humana!
- E quando você esta com essas "coitadas" que você disse Jonathan, você se lembra dessas mulheres que você ama? Como você se sente em relação a essas coitadas?
- Lógico que eu lembro doutora, mas eu não faço isso sempre não acho que em toda minha vida fiz isso no maximo umas quatorze vezes... Eu não gosto dessas mulheres justamente por que elas parecem muito sujas sei lá... Sei que é uma tremenda calhordisse dizer isso, mas é como se elas nem fossem gente. - Com certeza era uma tremenda calhordisse dizer isso.
- Você nunca falou sobre isso com ninguém Jonathan?
- Nunca doutora, eu tenho poucos amigos, a maioria é no trabalho lá eu devo ser visto como uma pessoa normal, e você sabe como é trabalho, deu dezoito horas todo mundo vai pro seu canto.
Vanessa deu uma olhada na ficha de Jonathan.
- Estou vendo aqui que você é editor de fotografia e trabalha em uma editora, Ninguém no seu trabalho nunca te perguntou sobre seus relacionamentos?
- Não entendi essa pergunta doutora, sei lá... Se brincar esse povo acha que eu sou gay.
- Isso te incomoda?
- Claro!
Nesse momento Vanessa percebeu que só tinha mais dez minutos de sessão, era importante ser rigorosa com horários, principalmente nos primeiros dias.
- Bom Jonathan nossas sessões iniciais tem cinqüenta minutos, e só restam alguns minutos, gostaria nas próximas sessões de conversar mais sobre a sua infância, e sobre a forma como você enxerga as outras pessoas para a gente conversar na semana que vem gostaria também que você fizesse duas listas pra mim, sei que parece besteira, mas gostaria que você fosse muito sincero, quero uma lista com os motivos que uma garota teria para te "Amar" e os motivos para não te "Amar".
- Tipo prós e contras doutora? - perguntou Jonathan em meio a um riso nervoso.
- Isso! E é bastante cedo pra que eu de qualquer opinião, mas gostaria que você refletisse se o que você sente não é só desejo sexual e frustração pela sua timidez.
- Frustração beleza doutora, mas não é só desejo! Pelo amor de Deus eu pularia na frente se alguém atirasse na senhora! - Já era esperado por Vanessa que isso fosse acontecer, só não achava que o paciente fosse se declarar pra ela depois de quarenta e cinco minutos de sessão.
- Talvez você deva considerar encarar a intensidade desse sentimento então Jonathan, pense em como essas mulheres reagiriam a uma declaração sua.
E antes que Jonathan pudesse argumentar ela disse de levantando e estendendo a mão.
- Espero te ver na quarta no mesmo horário, tudo bem?
Jonathan a cumprimentou e saiu da sala praticamente em silencio.
Vanessa pegou o telefone, discou o ramal da sua secretaria.
- Iracema, espere esse paciente sair e já pode ir, eu vou ficar um pouco mais hoje, preciso escrever algumas coisas... Boa noite pra você também.
Vanessa ligou o notebook, tirou o cinto, soltou os cabelos sentou-se na cabeceira da mesa discou um numero no celular.
- Alo... Mãe... Vou chegar mais tarde hoje, não precisa me esperar pra comer, alguém ligou pra mim? Tudo bem obrigado, beijo.
Vanessa abriu o frigobar e retirou uma lata de coca, sentou-se na frente do computador e abriu o programa de poker online.
Maia
PS:
(Desculpe eventuais erros de portugues! Perdido vc pode revisar pra mim?? Vlws)