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sábado, julho 01, 2006

Cadela Abandonada

Em um beco escuro e mal iluminado, na cidade de São Paulo, uma mulher de traços asiáticos e cabelo verde, de aproximadamente vinte e cinco anos, surge saindo da entrada de serviço de uma boate. Olha para os dois lados, não vê nada, só um carro preto fechado na esquina. Ela se despede de alguém, fecha a porta e segue andando na direção oposta ao carro.
Ela caminha apressada e alguns metros à frente ouve um bater de porta vindo do carro e então percebe um homem baixo e obeso vindo em sua direção, enquanto fuma um cigarro. Ela então enfia a mão dentro da bolsa procurando um aparelho de choque e com o dedo no botão de ativação, para antes que o homem se aproxime demais, e então se volta para ele com um sorriso impertinente no rosto e diz:
- Já parei de trabalhar hoje fofinho, e eu só atendo no clube – apontando pra a porta por onde havia saído.
- Bruna Samiuchi? – perguntou o homem com uma rouquidão que tornava sua voz quase incompreensível.
- Sim, quem é você e como sabe meu nome? – E sem perder o sorriso encarou melhor o homem de bochechas grandes e olhos pequenos – Por acaso é algum fã?
- Iago Bertunni, seu criado, perdoe-me, mas...
- Esta perdoado Fofinho, mas agora eu tenho de ir. Tenho um compromisso e não posso me atrasar – E antes que pudesse dar as costas ao homem.
- Serei mais direto então, você participou do seqüestro do senhor Amadeu Soares Perinoto?
Bruna que já estava quase de costas para aquela figura patética se voltou novamente para o homem que agora parecia incrivelmente ameaçador.
- Que merda é essa? Você é policial por acaso? – A expressão dela se tornou tensa e assustada.
Antes de terminar a pergunta, respondendo apenas ao seu instinto de defesa, num impulso animal ela se lançou sobre ele ativando a arma de choque, atirando o homem a alguns metros sentado no chão. E enquanto Bruna corria, Bertunni pegou a arma que estava em seu colete e ergueu o braço disparando um tiro que atingiu o ombro direito da garota que cambaleou. Porém, tomada pelo medo continuou em disparada. Bertunni se levantou e começou a perseguir a garota.

"Droga, a idade esta pesando. Daqui pra frente só mato pessoas mais velhas do que eu..." era o que pensava Bertunni enquanto perseguia a pobre moça que apesar de baleada no braço, conseguia manter uma grande velocidade.
Quando já estava quase botando os pulmões pela boca, ele resolveu atirar novamente antes que o pavor da moça passasse e ela começasse a gritar. Atirar correndo seria desperdício, então percebendo que teria apenas alguns segundos para acertar a piranha antes que ela virasse à direita na próxima esquina. Olhando para o chão contou dois passos largos pulou uma poça d’água e parou fechando o olho esquerdo e esticando bem os dois braços. A poça atrapalhou o cálculo de Bertunni e a bala atingiu a moça no exato momento que ela virava o corpo. Ela girou e desapareceu de trás da esquina.

Com a certeza de que a garota não correria mais, ele tira o pente de sua arma e pega no bolso de dentro do colete duas balas que encaixa no pente com exímia perícia enquanto caminha rapidamente para a esquina. Antes olha ao redor, a rua está vazia.
Ao chegar a esquina, empunha o revólver com as duas mãos ao lado da orelha esquerda, ameaça virar, para, limpa a testa e sussurra:
- Esteja morta garota, esteja morta.
Então ele vira, vê o corpo caído dez metros à frente.
- Graças a Deus!
Começa a desrosquear o silenciador quando ouve um gemido e vê a moça se arrastando apenas com a força do braço esquerdo. Bertunni balança a cabeça negativamente e volta a rosquear o silenciador enquanto anda na direção da pobre coitada. Quando ela percebe sua presença se desespera e começa a gritar:
- Socorro! Por favor! Não me mata eu não te fiz nada! Eu falo o que você quiser, mas não me mata eu preciso cuidar da minha filha! Ela só tem seis anos!
Ele se abaixa aponta a arma, faz um sinal para que a moça pare de falar e diz:
- O melhor que você vai conseguir é me fazer perder uma noite de sono.
Bruna tenta dizer algo, mas o medo e o cansaço só lhe permitem chorar e fazer uma súplica incompreensível. Um disparo no meio do peito. Ela tenta dizer alguma coisa, mas o sangue que sai pela sua boca a afoga e em alguns segundos ela desfalece. Bertunni joga o corpo pequeno dentro de uma caçamba de lixo ali perto. Limpa a pequena mancha de sangue em sua gravata azul com um lenço de papel que ele tira do bolso, volta na direção do carro, mas antes para na frente da porta do clube. Bate duas vezes, para um segundo e bate mais duas vezes. De dentro sai uma jovem também asiática com um vestido minúsculo, de no máximo dezoito anos. Ele entrega a ela um maço de notas de cinqüenta. Ela agradece e fecha a porta. Ele caminha até o carro enquanto pensa em qual deveria ser o grau de parentesco entre as duas vadias e no quanto é impossível confiar em alguém.


Maia.

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