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quarta-feira, abril 08, 2009

Relatos

13 de março de 2009 - 7:30 AM - A apenas cinco horas ele havia dormido, ao se levantar checou a temperatura do computador, com as luzes que indicavam funcionamento queimadas essa era a única forma de ter certeza se ele estava ligado, o som do exaustor da maquina não era de grande ajuda, o ventilador do quarto estava ligado.
Era sábado, sozinho no quarto e na casa sentou-se na cama e lembrou da noite anterior, não dos fatos importantes ou das conversas que teve, forçou-se apenas a lembrar dos últimos pensamentos que havia tido antes da escuridão do quarto entrar pelas frestas de seus olhos enegrecendo sua consciência. Esse exercício diário já vinha se repetindo a dois ou três meses, fazia isso todas as manhãs, era um exercício mental que segundo um artigo reforçava a capacidade intelectual do praticante.
Levantou-se, decidiu ficar nu, estava sozinho, seu quarto ficava na parte superior da casa juntamente com os outros quartos da família, entre seu quarto e a escada havia uma sala de estar, o vidro da janela sem persianas fazia sua nudez perceptível, ainda que a considerável distancia, a um eventual transeunte, não se importou.
Ele nunca foi desinibido, excesso de pudor e de preocupação com a opinião alheia nunca lhe faltaram, não havia ocorrido na sua vida recente nenhum fato que o tivesse feito mudar, eram 7:50 AM.

18 de novembro de 2006 – 6:30 AM - A luz do quarto se acende, na cama seus olhos vêem sua mãe entrar, seu corpo se ergue rapidamente, boceja, pega o copo de leite e agradece. Enquanto sua mãe vai até a frente da casa recolher o jornal ele vira o copo, quando ela volta, ele lhe entrega e agradece novamente deitando-se, ela então diz:
- Não vai atrasar hein...
- O celular toca antes das sete horas fica “sussa”.
A porta fecha, a escuridão é rala a luz teima em entrar pelos cantos da janela, ele não dorme. Passa vinte e dois minutos pensando que não tem tempo suficiente para dormir, desejando poder dormir mais, como seria bom não trabalhar, pensa que é besteira pensar essas coisas, e então não pensa nada mais.

18 de novembro de 2006 – 7:00 AM - A porta de madeira ruim esta fechada, bem no fundo é possível escutar o toque imbecil de um celular, alguns minutos e a porta se abre, através dela ele surge se arrastando até o banheiro, escova os dentes lava o rosto, se encara no espelho tenta arrumar o cabelo, enquanto isso lá fora o jornal esta sobre a mesa da cozinha, sua mãe voltou para cama, à descarga ecoa incomodamente pela casa a porta se abre ele senta na cozinha folheando o jornal no pior dos cadernos, olha uns minutos levanta bebe água, ele bebe muita água, e sai arrastando seu corpo pesado de sono até o serviço.

18 de novembro de 2006 – 7-30 AM -
Existe algo no ponto de ônibus que o incomoda, todos ali são mulheres, homens bem mais velhos que ele, ou ainda guardinhas, não existem outros caras como ele ali, onde essa gente está?

18 de novembro de 2006 – 8:04 AM - Como sempre ele chega quatro minutos atrasado no trabalho. Cumprimenta as pessoas, é sempre assim quando ele chega existe sempre a quase obrigação de saldar a todos, talvez por ser o ultimo a chegar, mas quando chegam depois dele esse peso recai sobre ele novamente, é algo estranho é como se fosse uma inferioridade social que ele não consegue vencer, o problema é causado por uma falha no processo de percepção enquanto ele olha para um rosto, ele sempre olha por um segundo a mais que o normal, talvez por isso as pessoas esperam que ele fale alguma coisa, mas quando ele é flagrado por essa expectativa acaba ficando confuso e se enrolando em um cumprimento quase símio.
Ele não tem grandes amigos no trabalho, ele é um novato lá, isso não lhe incomoda, as pessoas de lá são agradáveis em sua maioria, talvez por serem quase todas elas mulheres. É sempre melhor estar com mulheres, essa é sua opinião, não que ele seja afeminado, alias. Ele deseja todas as mulheres dali com idade próxima a sua, não é que ele seja algum tarado, é que todo homem é assim, pelo menos os que ele conhece, nesse ponto ele se acha normal.
A única coisa que o incomoda no trabalho e em tudo depois da escola até mesmo na faculdade é a falta de profundidade das coisas nada mais é tão intenso, nada tudo nele esta ficando cada vez mais calejado.
O dia corre lento, enquanto dobra papeis, rasga papeis, sobe e desce escadas ele fica o dia todo preso em sua mente, onde fluem correntes de pensamentos continuas e variadas, durante o dia sempre que ele cruza com alguém que julgue interessante tenta estabelecer uma conversa, mas a falta de intimidade acaba tornando as conversas mais curtas do que desejaria.
A tarde acaba e ele parte para o ponto, lá ele quase sempre encontra alguém conhecido, ai as coisas são mais fáceis e antes que ele perceba esta novamente na frente da sua casa.

13 de março de 2009 - 8:30 AM - Saindo do banheiro ele pensou em retornar e tomar banho, decidiu deixar para mais tarde, nesse instante em que deixava o banheiro um pensamento complexo pela quantidade de considerações e conclusões nele contidas passou por sua mente, estava preocupado, já a alguns meses vinha usando algumas drogas para perda de peso, havia perdido quinze quilos, aquilo não o satisfazia, nem era esse o intuito, pensou que não havia intuito, não pleiteava aumento ou ganho de beleza, não queria ficar saudável, era suficientemente inteligente para saber que essa seria a ultima das conseqüências do uso daquelas coisas, pensou que talvez os vários comprimidos diários estivessem provocando a diarréia alternada por períodos de prisão de ventre. Olhando de relance no espelho pensou em escovar os dentes.
Mas uma vez sua consciência desdobrou o foco de raciocino, lembrou da infância, e de como era elogiado sempre que ia ao dentista na infância, nunca teve caries, os dentes sempre foram alinhados, pensou em qual seria o peso da recomendação dos dentistas sobre escovar varias vezes os dentes durante o dia. Secretamente, sempre foi negligente com isso, na infância muitas vezes se trancava no banheiro brincando com soldadinhos de plástico na pia cheia de água, e depois, apenas bochechava um pouco de água com pasta, mais tarde a vaidade e com ela o costume de escovar os dentes se fundamentou.
Porem diversas vezes ele incorreu no antigo crime, entrava no banheiro, e de frente pro espelho travava calorosos debates consigo próprio, interpretando todos os envolvidos e quando se dava conta do atraso saia fazendo apenas o velho e prático bochecho.
13 de março de 2009 - 9:10 AM - Entrando na casa com o jornal do dia nas mãos ele desfaz o kilt improvisado com uma camisa social e uma esportiva, afortunadamente esquecidas na sala na noite anterior, deixadas ali mesmo respectivamente nas voltas do trabalho e da faculdade.
Deixar as coisas jogadas, andar nu. Prazeres da solidão.
Seguiu para cozinha ligou o ventilador de teto, não sentia calor, era só um costume, ligou o televisor, sem dar atenção à programação, não quis sentar-se despido sobre a cadeira recentemente comprada pela mãe, pudor ridículo, apanhou na geladeira uma caixa de suco de pêssego e uma conserva de azeitonas.

13 de março de 2009 - 18:00 PM - Após comer macarrão instantâneo com restos de carne moída e arroz deixados pela mãe, pensou em ligar para algum amigo, percebeu que não seria o melhor dia, estava estafado, não havia feito nada o dia todo, mas também não queria fazer nada em especial.
Deitou-se na sala, e dormiu.

18 de novembro de 2006 – 19:00 PM - Ele corre para faculdade, lá ele encontra alguns amigos da época da escola, é sempre agradável, mas não são mais as mesmas pessoas, ainda bem por que senão seriam um bando de retardados, mas mesmo assim, isso é de alguma forma triste para ele, definitivamente não leva a faculdade a sério, ninguém leva Processamento de Dados a sério, só existem três motivos para ele estar ali, é uma profissão que tem bons salários, seus amigos estão ali, é uma faculdade publica.
Ele não quer fazer nenhuma faculdade em especifico, vai acabar essa antes dos 23 daí talvez ele já saiba o que vai querer fazer, por hora ele vai levando, às vezes ele mata as ultimas aulas para ir ao cinema, depois de responder a chamada, mas dessa vez ele vai para casa.

18 de novembro de 2006 – 22:45 PM - Ele estaciona o carro na garagem, abraça a mãe, liga o computador, toma banho, fica trinta minutos na internet conversando com alguns conhecidos que ele consegue encontrar, por fim ele dorme.

Maia.

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