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domingo, abril 29, 2007

O Pequeno Imbecil

O pequeno imbecil saiu de sua casa. Era mais um dia normal para o pequeno e pobre imbecil. Porém, enquanto caminhava de cabeça baixa, pois o pequeno imbecil sempre caminhava de cabeça baixa, o pequeno imbecil encontrou uma moeda de 10. Por ser cretinamente pobre e desgraçadamente sem sorte, o pequeno imbecil jamais tinha encontrado uma moeda e isso o encheu de curiosidade e pasmem, esperança. Talvez aquilo fosse um símbolo e estivesse chegando o momento do pequeno imbecil deixar de ser o pobre azarado e quem sabe até imbecil do pequeno imbecil.
Enquanto gozava do êxtase de sua sorte o pequeno imbecil passou a não se importar com os olhos de censura que o espreitaram por toda a sua ridícula vida. Por fim, o pequeno imbecil decidiu-se. Ia comprar um pacote de balas, sim sim - disse ele - 200 balas! Mas o pequeno imbecil há muito tempo não tinha um pacote de balas só seu. O que era uma mácula na vida de um pequeno imbecil viciado em balas, pois só quem dá balas para pequenos imbecis são pessoas gordas ou loucas e quase sempre essas balas tinham gosto ruim por estarem sujas. Ou eram seguidas de olhares de arrependimento por parte de quem as dava, pois percebiam que ele era só um pequeno imbecil porém, agora ele tinha o seu próprio pacote de balas.
Correu depressa para casa e começou a chupar as balas. No início, com prazer, mas logo essa nova sensação o cegou e ele passou a chupar três balas por vez, depois quatro, e assim rapidamente o pacote acabou e então o pequeno imbecil passou a experimentar o martírio da falta, pois até mesmo um pacote de balas faz falta para quem não está acostumado com um pacote de balas. Ainda mais para um pequeno imbecil.
À noite, depois de chorar, sim, pois o pequeno imbecil chorou por um pacote de balas, o bobão do pequeno imbecil - que a essa altura sentia o peito estufado e dolorido, como se o resto do suco das balas que ainda estava dentro dele quisesse sair dali não se importando com o obstáculo imposto pelas costelas e carne do pequeno imbecil - tomou uma decisão: "Da próxima vez que eu encontrar uma moeda saio correndo." E assim, o pequeno imbecil seguiu sua vida simples, até morrer vítima de um ataque cardíaco fulminante ao ganhar uma bala de troco em um açougue.


Pequeno Imbecil

quinta-feira, abril 12, 2007

Procuro a minha droga

Procuro a minha própria vacina
Pois sou o doente e a doença

Uma droga única e sublime
Que me permita tocar as vísceras de um Deus e sorver o seu sangue
Algo que me arremesse para fora da minha carne
Que me livre por alguns instantes dessa prisão de pele, ossos e gordura

Mas...maconha tem cheiro de maçã do amor com merda e me dá sono
Cocaína, heroina, novalgina e epinefrina
Dor de Cabeça, Mais dor de cabeça
A dor passa, a vida morna segue

Procuro um alquimista
Um tipo de mago ou bruxo
Um capitalista desgraçado

Alguém que em troca de tudo o que eu tenho liberte-me de mim mesmo
Um anarquista sem medo
Um chaveiro que tenha coragem de forjar chaves para todas as celas
Um louco capaz de libertar todos os criminosos do mundo
Alguém que me venda um veneno não letal e permanente

Um veneno que torne tudo mais fácil e mais rápido
Pois é tudo difícil e devagar demais
Que torne tudo mais complexo e calmo
Pois os gritos simplistas a minha volta me ensurdecem
Pois ao contrário dos que desejam ser surdos para não ouvir
Eu desejo que os gritadores se engasguem com as próprias línguas e morram.

Tain.
 

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